quarta-feira, 10 de agosto de 2011

BDpress #282: AS MINORIAS ÉTNICAS NA BANDA DESENHADA, Pedro Cleto no Jornal de Notícias

Tex Willer e os companheiros (pards) - Jack Tigre em primeiro plano

(Para ver a imagem em tamanho legível, clique em cima da mesma)

Jornal de Notícias, 9 Agosto 2011

IMENSAS MINORIAS AOS QUADRADINHOS

F.Cleto e Pina

Criação de Homem-Aranha negro de origem hispânica volta a colocar a questão étnica na ordem do dia.

Se há semanas o anúncio da morte do Homem-Aranha mereceu grandes atenções mediáticas um pouco por todo o Mundo, a sua substituição por um negro de origem hispânica não lhe fica atrás. E, assim, a questão étnica vol¬ta ao território da banda desenhada.

Convém esclarecer que esta mudança, contudo, não diz respeito ao super-herói original, mas sim ao da versão da revista "Ultimate", que transpunha a sua origem para os nossos dias. Nela, depois da morte de Peter Parker, o protagonismo está entregue a Miles Morales, descendente de africanos e de latinos. A sua origem será contada em Setembro, em "Ultimate Comics Spider-Man #1", onde, segundo o argumentista Brian Bendis, surgirá "como um Homem-Aranha do século XXI, um reflexo da cultura e diversidade norte-americanas". Esta ideia estava em cima da mesa desde que Obama foi eleito para a Casa Branca.

Sendo verdade que a opção permite uma nova e diferente abordagem em termos narrativos - desde logo mostrando o novo Homem-Aranha como vítima de racismo -, possivelmente, por detrás desta mudança tão radical estarão apenas objectivos de marketing. Que resultaram quando o Homem-Aranha morreu às mãos do Duende Verde, com as vendas da revista a triplicarem, fruto também da mediatização do facto, tal como acontece agora.

Para já, resta aguardar pela reacção dos fãs, sendo certo que Miles Morales poderá conquistar novos leitores junto das comunidades negra e hispânica, uma vez que os quadradinhos norte-americanos (e não só) não têm sido pródigos na entrega de papéis de primeira grandeza a re-presentantes de minorias.

Quase sempre secundários

Na verdade, presentes desde os clássicos da BD até ao presente, negros, latinos e outros raramente ultrapassaram papéis secundários, como ajudantes ou contraponto cómico do herói branco, bem parecido e com capacidade de decisão, como no caso de Mandrake, o mágico, que tinha como auxiliar Lotário, o hercúleo e musculado negro, que até era monarca de uma nação africana!

No campo dos super-heróis, durante anos, o companheiro de aventuras do Capitão América foi outro negro, conhecido como Falcão.

Blade, o caçador de vampiros; Pantera Negra e Luke Cage tam bém são negros, sendo que a Cat Woman, o Lanterna Verde, Nick Fury, a X-Woman Tempestade e mesmo o Capitão América, o Super-Homem e a Super-Girl, estes num universo paralelo, já tiveram versões negras.

O western é um género em que os exemplos abundam: dois cowboys galantes, Cisco Kid e Jerry Spring, geralmente faziam-se acompanhar por mexicanos de nome Pancho, grande perímetro abdominal e o jeito para o disparate, tal como o seu compatriota Chico, ajudante regular de Zagor. Numa outra criação Bonelli, Tex, em muitas histórias, o ranger não dispensa a sombra de Jack Tigre, pele-vermelha como Tonto, o amigo do Lone Ranger, e Comanche, a patroa de Red Dust, menos protagonista do que este apesar da série ter o seu nome.

Álbuns de Tintin politicamente correctos

DO retrato paternalista que Hergé traçou dos negros congoleses em "Tintin no Congo", em 1930, valeu-lhe diversas acusações de racismo e, aos detentores dos direitos das suas obras, o processo que actualmente corre nos tribunais belgas. Essa imagem seria contrariada quase três décadas mais tarde, em 1958, quando o repórter e o capitão Haddock combatem um grupo responsável pelo tráfico de negros, em "Carvão no porão". Apesar disso, ao longo dos anos, nos sucessivos melhoramentos que Hergé introduziu nos álbuns de Tintin, ao nível do desenho ou da cor, nalguns casos pontuais, negros, índios ou árabes foram substituídos por brancos, para atenuar o impacto das imagens originais, como é possível verificar comparando as duas versões disponíveis no mercado português de "Tintin na América", a normal e o fac-simile da edição de 1945, recentemente lançado.

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Miles Morales, a nova identidade secreta do Homem-Aranha

Jerry Spring e Pancho

Mandrake e Lothar

Lone Ranger e Tonto

Comanche e Red Dust (Hermann)
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As imagens são da responsabilidade do Kuentro
Pode visitar também o blogue português do Tex
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