segunda-feira, 2 de julho de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (LIV e LV) – CARLOS ALBERTO E O MUNDO DA BD – ESBOÇOS DE MEMÓRIA 7 – Por José Batista E O CAMARADA – UMA REVISTA 100% PORTUGUESA – 2 e 3 – por Jorge Magalhães




9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(LIV - LV)

O Louletano, 12 a 18 de Abril 2005 

UMA REVISTA 100% PORTUGUESA – 2 

por Jorge Magalhães

Mas a missão do Camarada não era competir com os gigantes, mas sim criar um estilo diferente de jornalismo infantil, com o concurso de artistas jovens e inovadores, que fervilhavam de talen­to. E, nesse aspecto, o seu objectivo foi coroado de êxito, embora tenha tido uma vida relativamente curta: 133 números, de Dezem­bro de 1947 a Janeiro de 1951.

Outro dos seus mé­ritos, quanto a nós, foi a divulgação de três das melhores criações de um artista que já fizera a sua roda­gem no Mos­quito e viria a tornar-se um dos no­mes mais destacados da BD portuguesa: José Garcês. "Rumo a Oriente", "A Princesa e o Mágico" e "O Terrível Espadachim", são exemplos perfeitos de um modelo clássico que Garcês cultivou como poucos e não é exagero dizer que ficaram para sempre na memória dos leitores, sobretudo a primeira dessas histórias, pela harmonia do traço, a exuberância das formas e das cores, o subtil erotismo e a exótica sugestão de aventura.

Outro autor consagrado que aparece nas páginas do Camarada é Vítor Peon, mas a sua passagem foi breve e de pouca monta. As duas aventuras que ilustrou, "Sangue Aventureiro" e "Audaz, o Cow-Boy Justiceiro", pertencem a uma fase de transição, quando o artista, depois de se mudar das páginas do Mosquito para as do Diabrete e do seu estilo adquirir um cunho mais pessoal, já se preparava para voos mais altos, com aquela que seria, pelos vindouros, considerada a sua obra-prima: "A Casa da Azenha".

Mas nem só os desenhadores ocupam no Camarada lugar de destaque. Muitos outros nomes contribuíram para alicerçar o prestígio da revista e para aquilo que, em nossa opinião, mais a distingue das suas congéneres: o notório equilíbrio entre as histórias aos quadradinhos e o restante sumário.

Recorrendo sempre à «prata da casa», isto é, a trabalhos exclusivamente portugueses, o Camarada teve, na parte lite­rária, a valiosa colaboração de autores como Mascarenhas Barreto, Armando Sereno Simões, Fernando Paços, José Henrique Pinto dos Santos, António João Bispo, Elmano Alves, Hermínio da Conceição, Noel de Arriaga, «Sete de Espadas» (orientador de "Mistério e Aventura", a mais céle­bre secção policial publicada em revistas do género). Vasco Hogan Teves, José António Ribeiro, António Manuel Cou­to Viana (que acabaria por se tornar também editor, a partir do n° 70) e muitos outros.


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O Louletano, 19 a 26 de Abril 2005 

UMA REVISTA 100% PORTUGUESA – 3 

por Jorge Magalhães

Os textos, escritos num português simples mas divertido e emotivo - ou seja, a linguagem lúdica mais adequada a um público infanto-juvenil –, oscilavam entre o tom de pura farsa (exemplo: as "insignes" aventuras do Capitão Mostarda, narradas por "Impressão Digital", pseudónimo de Mascarenhas Barreto), o estilo ameno e comuni­cativo de Noel de Arriaga e António João Bispo, e o poético lirismo de Florismal (Fernando Paços) – outro pseudónimo que se tornaria presença assídua nas páginas do Camarada -, sem esquecer a ênfase heróica e aventureira, a cargo, entre outros, de José Henrique Pinto dos Santos, que também foi chefe de redacção.

No campo das histórias aos quadradinhos, o leque não foi menos variado, cabendo a Júlio Gil, tão à vontade no género humorístico como no «sério», a primazia indiscutível com criações tão memorá­veis como "Cid Campeador", "O Segredo da Luva Cinzenta", "O Samovar de Prata", "O Célebre Encontro de Texas Jack com Buffalo Bill" e, sobretudo, duas aventuras do Chico – uma espécie de Cuto em versão portuguesa, mas com alguns rasgos físicos e psicológicos que o transformaram, a breve trecho, noutro tipo de aventureiro – intituladas "O ídolo" e "Bres, a Ilha Afortunada", que foram, graças ao carisma do seu protagonista, um dos maiores êxitos do Camarada.

O traço curvilíneo, ágil e nervoso, quase que esboçado e, simul­taneamente, de refinada elegância, que caracterizava Júlio Gil, aca­bou por se tornar uma espécie de ex-libris do Camarada, fazendo-nos lamentar que este artista, a dado passo da sua carreira, tivesse renunciado por completo às histórias aos quadradinhos.

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A FILHA DO REI DE NÁPOLES
Jorge Magalhães (arg) e Carlos Alberto (des)


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