segunda-feira, 6 de agosto de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (LXII e LXIIII) – ROUSSADO PINTO (1) ...


Ilustração de Carlos Alberto, para a capa do nº1 de Zakarela, uma das criações de Roussado Pinto, desenhada (e pintada nas capas) por Carlos Alberto Santos


9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(LXII - LXIII)

O Louletano, 14 a 20 de Junho 2005 

NOSTALGIA
por José Batista 

Podemos, sem sombra de dúvida, integrar Roussado Pinto no rol dos mais fecundos e perseverantes profissionais na área da BD, tanto no campo da edição como no de autor de textos e investigador. A banda desenhada foi o seu sonho, e, O Mosquito, a sua paixão. Em 1946, após o fracasso comercial d’O Pluto, ei-lo a colaborar com O Mosquito, no qual se inspirara, tendo aí conhecido, entre outros, E.T. Coelho agora falecido.

O texto que a seguir se publica faz parte de um conjunto de memórias saídas no Jornal do Cuto, em 1975, o qual, pela refe­rência a Eduardo Teixeira Coelho, se insere na recente ocorrência que afastou de nós esse grande mestre da BD. JB

NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA 

É curioso contar aqui a maneira como conheci Cardoso Lopes e Eduardo Teixeira Coelho. linha então 18 anos, fazia o «Pluto». e naquela segunda-feira, quando fui à Direcção dos Serviços de Censura buscar as provas do jornal e saber se havia algum corte a fazer, o funcionário de serviço disse-me:

Já viu o «Mosquito» desta semana? Olhe que ele atira-se a si com força!

Enchi-me de curiosidade e fui ver. Numa local, que depois vim a saber ter sido escrita por Raul Correia, o «Mosquito» falava no aparecimento d'«O Pluto», e dava-lhe umas ferroadas bem dadas (e com justa razão). De facto, «O Pluto» tinha sido feito dentro da linha do «Mosquito», embora sem sofisma. Os meus dezoito anos e toda a ternura que sentia por ele, levaram-me a fazer quase o «Mosquito», apenas com a preocupação de que o material a utilizar fosse português. Nessa local, porém, falava-se de plágio de desenhos e isso, fez me ficar fulo.

Para que o leitor se possa sorrir um bocado, dir-lhe-ei que nessa altura não só praticava luta como treinava râguebi - tudo com o velho amigo Miramon, um apaixonado por estes despor­tos, e a quem eles tanto devem - e, portanto, estava na idade em que resolviam os problemas deste tipo recorrendo ao «físico» (oh, os 18 anos!). Claro que me estão a ver a passo-de-carga-da-brigada-ligeira a caminho da Tra­vessa de S. Pedro de Alcântara, chegar ao balcão a gritar pelo sr. Cardoso Lopes, e exigir-lhe que me explicasse «ali» e «naquela altura», «imediatamen­te!», tais palavras.

O velho e querido Cardoso Lopes olhou-me do alto dos seus óculos (para ver de perto olhava sempre por cima dos óculos) e pressentindo os meus «fu­mos», sorriu-se - ele sorria sempre mesmo quando lhe davam pontapés no traseiro, o que infelizmente acon­tecia muitas vezes - e chamou Eduardo Teixeira Co­elho. Ambos tiveram paciência para o rapaz que eu era, e levaram-me para a sala de trabalho que daí a meses seria a minha - onde me mostraram a razão das suas palavras. Foi o Coelho, aliás, quem me elucidou. Dir-me-ia, porém, que isso em nada diminuía «O Pluto», pois era vulgar os ilustradores aproveitarem a experiência dos mais velhos, e mais ainda em Por­tugal, onde não havia escolas. Apenas o Raul Correia «pegara» nisso e fizera «cavalo batalha»...

Dissiparam-se os meus «fumos» - «fumos» idiotas de rapazola com a mania da luta e do râguebi - e acabámos por ficar os três a conver­sar sobre jornais, fal­tas de papel (também nessa altura ...), mes­tres de ilustração, e ou­tras coisas do estilo.

Pois bem: foi as­sim que conheci o Car­doso Lopes e o E.T. Coelho. Algumas se­manas mais tarde, quan­do o «Pluto» era en­terrado, o primeiro chamar-me-ia para o seu lado.

Roussado Pinto 

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O Louletano, 21 a 27 de Junho 2005 

BIOGRAFIA – ROUSSADO PINTO
por António Dias de Deus e Leonardo De Sá* 

Natural de Lisboa, onde nasceu a 14 de Julho de 1926, a carreira de José Augusto Roussado Pinto cresceu ligada ao jornalismo infantil. Estreou-se em finais de 1945, como director de "O Pluto", com dezanove anos de idade. A revistinha apareceu em 30 de Novembro de 1945 e vinha escrita fundamentalmente por Roussado Pinto, desenhada quase 100% por Vítor Péon e maquetizada, em parte, por José Garcês – qualquer deles em princípio de carreira e com idades rondando os vinte anos. Houve também colaborações de António Barata e Orlando Marques.

A publicação foi até ao nº 25, de 24 de Maio de 1946, começou completamente nacional mas no final teve que admitir comics estrangeiros. Incansável Roussado Pinto passou em seguida para "O Mos­quito", "O Papagaio", "O Mundo de Aventuras", editando, dirigindo, traduzindo, escrevendo novelas, in­ventando argumentos (por vezes sob o pseudónimo "Edgar Caygill, um das várias dezenas que utilizou), no­meadamente para Vítor Peon, foi es­forçado lutador nas revistas de his­tórias aos quadradinhos - e não só.

O romance, a reportagem, a lite­ratura sensacionalista, bem como a edição de antologias policiais e de western, encontraram nele um pala­dino. Mesmo as publicações humo­rísticas contavam-no entre os seus redactores, como foi o caso de "Riso Mundial" e, depois, de "A Risota". Em 1951, com a "Colecção Con­dor", da Agência Portuguesa de Revistas, introduziu em Portugal os "Mini-Álbuns", publicações de re­vistas mas com histórias completas.

Em 1954-55, fundou e dirigiu a Fomento Publicações, produzindo entre outras revistas juvenis "Titã" e "Flecha", assim como diversos pe­quenos álbuns com histórias de E.T. Coelho e dos irmãos Blasco. Em 1956 editou a revista "Valente".

Adaptou as aventuras do "Ca­pitão Trovão" (El Capitan Trueno, de Ambros), para a Editorial Íbis, em 1959-63, e realizou a pequena colecção "Ciúme" para a Editorial Organizações - mas, de modo geral o seu nome não apareceu nas fichas técnicas desse período.

Em 1966, juntamente com Acácio Francisco S. Gomes (que mais tarde formaria as Edições Pirâmide) e Al­fredo Silva, fundou a Parilex - edi­tora à qual esteve também associado o nome dc Vítor Péon.

* in "Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal" (Edição Época de Ouro, 1999)

 
 
S.O.S. NA IDADE DA PEDRA
Argumento de Edgar Caygill (Roussado Pinto), desenhos de Vítor Péon

Esta banda desenhada pode ser vista na íntegra (36 páginas) 
no blogue Quadradinhos 

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PERRO NEGRO em SANGUE BRETÃO
Benoit Despas (arg), José Pires (des)


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