terça-feira, 26 de março de 2013

JOBAT NO LOULETANO — 9ª ARTE — MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (XCVIII e XCIX) — JOSÉ RUY SOBRE EDUARDO TEIXEIRA COELHO (19 e 20)





NONA ARTE 
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA 
(XCVIII - XCVIX) 

O Louletano, 9 de Julho de 2007 

O ARTISTA, O MESTRE, O COMPANHEIRO, O AMIGO - 19
Recordações de Tertúlia confidenciadas por José Ruy 

» Por volta de 1953 quando estavam em publicação os jornais infantis «O Mosquito», «O Cavaleiro Andante» e o «Mundo de Aventuras», saiu uma lei que obrigava as publicações do género a incluírem o mínimo de 70% de colaboração portuguesa. O normal era a inclusão de 90% de material estrangeiro. Os directores destes jornais foram logo a quem de direito expor que não era possível cumprir a lei, por falta de artistas portugueses com nível para tal proporção de trabalho. No «Mosquito» estava o Eduardo T. Coelho; no «Cavaleiro Andante» o Fernando Bento e no «Mundo de Aventuras» o Victor Peon. E pronto! Não havia mais ninguém. Foi-nos contado isto por um amigo que estivera nessa reunião, e como é natural, ficámos fulos com esta maneira simplicista de resolver o problema. E começámos a reunir «peças». Desenhadores já com um certo nível, naturalmente que havia. Para escrever argumentos também. E a partir daí, começámos a pensar em fazer um jornal infanto-juvenil só com colaboração portuguesa, e com nível.

A oficina que tinha sido do «Mosquito» na Travessa de S. Pedro, encontrava-se parada, pois estava alugada à redacção do «Camarada», publicação suspensa na altura. O jornal «O Mosquito» com a partida do Cardoso Lopes para o Brasil estava a fazer-se noutra oficina, dirigido só pelo Raul Correia, na Editorial Organizações.

Pensámos pôr essa antiga oficina do «Mosquito» a funcionar de novo... As cores continuariam a meu cargo, executadas nas chapas de offset pelo sistema litográfico. Como colaboradores literários dispúnhamos do Padinha, do Orlando Marques e do Lúcio Cardador. Para a parte artística contávamos com uma boa equipa que já estava a dar mostras de um bom nível: Fernando Bento, Victor Peon, Fernandes Silva, Victor Silva, José Garces, Artur Correia, o Coelho e eu. Claro que à partida não tínhamos contactado com outros elementos literários, devido à sua vinculação em publicações no activo, como Roussado Pinto, Simões Muler, Raul Correia, Artur Varatojo... 

Como não tínhamos dinheiro, fomos à redacção do «Camarada» expor a ideia. »»

"Peregrinação de Fernão Mendes Pinto". Tira da história inédita, desenhada por Eduardo Teixeira Coelho especialmente para a 1ª exposição portuguesa de histórias aos quadradinhos e ilustração infantil, em 1952.

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O Louletano, 16 de Julho de 2007 

O ARTISTA, O MESTRE, O COMPANHEIRO, O AMIGO - 20
Recordações de Tertúlia confidenciadas por José Ruy 

» Fomos bem recebidos na redacção do «Camarada», tanto mais que nos propúnhamos anular o prejuízo que a oficina causava estando parada. O E.T. Coelho mostrou os originais das ilustrações para os contos de Eça de Queiroz que maravilharam os responsáveis, que como não liam «O Mosquito» não conheciam ainda o trabalho. Discutiu-se o nome do jornal, e ficou assente que se chamaria «O Li­dador». Diziam eles que seria uma réplica ao «Cavaleiro Andante».

Concordámos, pois era um nome que soava bem. Umas semanas mais tarde mudaram de opinião, e resolveram sair com a 2ª série do «Camarada» nuns moldes idênticos aos da 1ª série.

capa do nº 1 - 2ª série - do "Camarada"

Quantas vezes tenho pensado como este «Lidador» teria alterado a posição das publicações infanto-infantis em Portugal... se tivesse chegado a sair. Nós pensámos criar uma espécie de coo­perativa. Os lucros que a publicação tivesse, a partir de pagas as despesas, seriam equitativamente distribuídos por todos os colaboradores. Isto dava um enorme incentivo para que cada um se aperfeiçoasse o mais possível no seu trabalho, pois estávamos directamente interessados no êxito da revista.

Poucos meses passados, e porque «O Mosquito» já tinha também suspendido a sua publicação, ten­támos ressuscitá-lo pela mesma forma. Agora, seria um jornal mais modesto em formato e número de páginas: 15x21 cm., a três co­res, trabalho manual, com oito páginas, custando uma moeda de 50 centavos, moe­da mágica que tinha sido, uma dezena de anos antes, utilizada pelo Cardoso Lopes... Nesta altura, o E. T. Coelho estava a decidir o seu futuro nesta terra. Para esta iniciativa, chegou a criar desenhos que se têm mantido inéditos até hoje. Uma pequena história d'O Mosquito a dar uma lição a um urso lambareiro, no seu estilo cómico tão fresco e cheio de movimento expressivo. Também para esse «Mosquito», ele concebeu e realizou «Marina e o Papagaio» mais tarde publicada pelo nosso amigo Roussado Pinto no Fomento de Publicações, em álbum.

Mais uma vez esta tentativa se gorou. E o E. T. Coelho partiu...

Esta pequena história inédita de E.T.C, destinava-se a meia página e os textos eram os seguintes: Títu­lo - «Para quem gosta de coisas doces». 1 - «Terás um bolo enorme e doce como tu nunca provaste!». 2 - «Têm amêndoas, passas, chocolates, cremes...». 3 - «Supõe-te a comer grandes fatias, doces como mel e até me sinto mal ao contar-te isto!» 4 - «Mas para isso tens que comer a sopa primeiro e comê-la toda!»

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25 e 26

Baseado no conto de Eça de Queiroz 
Desenhos de Eduardo Teixeira Coelho



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