quinta-feira, 11 de julho de 2013

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI NO KUENTRO (15) — AMIGOS DO CNBDI (12) de José Ruy

Desenho de Eduardo Teixeira Coelho...
ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI (15)

Devido a vários contratempos, não nos é possível apresentar hoje a Exposição dedicada a Neil Gaiman, como tínhamos previsto. Assim, publicamos apenas (e já é obra) a 12ª parte do texto de José Ruy Amigos do CNBDI, que relata a sua viagem a Itália na companhia de Cristina Gouveia, ao atelier de Eduardo Teixeira Coelho. Essa viagem foi objecto de um texto (mais detalhado) de José Ruy, publicado em duas partes no BDjornal #22 e #23, daí que acompanharemos o presente texto com as imagens fornecidas por José Ruy, na altura, para o BDjornal.

AMIGOS DO CNBDI (12) 
José Ruy

Entretanto…

Após a partida de Teixeira Coelho, em 2005, estive no Faial onde por várias vezes fui fazer ateliês de Histórias em Quadrinhos, e num fim de tarde em conversa com o diretor da Biblioteca Municipal da Horta ao falar deste projeto mostrou-se ele muito interessado, disponibilizando desde logo o espaço nobre do palácio do Seculo XVIII recentemente adaptado para a nova Biblioteca Municipal.

Curiosamente quando anos antes contactara o Teixeira Coelho, dizendo-lhe que estava na Horta, perguntou-me se ainda existia numa praça perto do porto uma enorme araucária que o maravilhara em criança, por nunca ter visto árvore tão grande. Identifiquei a árvore, não a mesma mas outra que fora plantada mais tarde no mesmo local, segundo investiguei. No entanto mostrava já a sua imponência, dominando a praça, como a primitiva.

Regressado à Amadora transmiti a notícia ao meu amigo Arquiteto Nelson Dona que entrou logo em contacto com o Faial e a Ilha Terceira, consolidando ao pormenor o seu sonho, aprovado já pela Vereação da Cultura. Em França, em Angoulême mostraram-se recetivos para a exposição, bem como nos outros países incluídos no périplo.

Em 2007 convidaram-me a ir com a diretora do CNBDI, Dr.ª Cristina Gouveia a Itália, ao último ateliê de Teixeira Coelho, em casa de sua filha onde se instalara depois do falecimento de sua esposa Gilda.

Tínhamos como tarefa fazer um levantamento exaustivo do material existente do Artista, para poder figurar nessa importante exposição. Avisou-nos a filha, Cristina Teixeira Coelho, não ser boa ideia ficarmos num hotel em Florença pois a sua casa situada em «Bagno a Ripoli» distava uns 8 quilómetros da Cidade e perderíamos muito tempo nas idas e vindas. Ofereceu para ficarmos em sua casa. Realmente foi muito mais proveitoso, pois o ateliê ficava na sala ao lado onde tomávamos as refeições. Logo no dia da chegada iniciámos o levantamento e surpreendemo-nos com o que encontrámos. Na sua fase final, Teixeira Coelho trabalhava o lápis com um vigor como nunca antes o tinha feito, quase não precisando cobrir a tinta. Tinha uma série de histórias iniciadas, com pranchas repetidas duas e três vezes, para melhorar a composição de uma vinheta, mas repetia toda a página, mesmo as partes que se mantinham iguais, redesenhando tudo rigorosamente, como se fossem fotografadas ou digitalizadas. Coelho sempre foi contra as «máquinas», desde os telefones, faxes e fotocópias.

Esse material afigurou-se-nos fabuloso pois mostrava uma fase completamente diferente da que lhe conhecíamos. No entanto não tinha textos. A sua técnica de criação de histórias sempre fora peculiar, mesmo nos tempos de O Mosquito. Nessa revista, ele idealizava uma história, alinhavava um guião, por vezes verbalmente com os seus argumentistas, como Raul Correia ou José Padiña, ia desenhando e eles iam escrevendo a partir dos desenhos prontos, destacando pormenores observados nas vinhetas. Trabalhava do mesmo modo com os espanhóis, para o jornal «Chicos». Quando o Artista chegou a França criou uma empatia imediata com Jean Ollivier e passaram a trabalhar nos mesmos moldes.

Nesse ano de 2007, Jean Ollivier falecera já, a seguir a Eduardo Teixeira Coelho e Gilda Teixeira Coelho. Não restava ninguém para testemunhar o que estava sob a narrativa gráfica, e para dificultar não havia uma única história completa que permitisse pelo desenrolar das cenas reconstituir o argumento.

Encontrei uma história de animais, de lobos, que não tendo o final, poder-se-ia considerar como termo a fase em que o autor a interrompeu, pois o que estava feito tinha coerência. Os anos de convivência com o Mestre assistindo ao seu processo de construção de histórias, dava-me condições para criar um texto para essa narrativa, pois lamentava-se a Cristina Teixeira Coelho e o marido, Giulio Benuzzi, não lhes ser possível publicar esse material sem um texto.

Prometi-lhes escrevê-lo e ofereci-o enviando-o depois, a partir da Amadora.

(continua...)

 A janela de onde E.T.Coelho via a colina de Bagno a Ripoli








 Vinheta de Decameron


 


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