sexta-feira, 1 de agosto de 2014

BDpress #423: SOLDADOS NAS TRINCHEIRAS (DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA) DESENHAVAM O CONFLITO

Quim e Manecas...

A BANDA DESENHADA RETRATOU A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL DE MÚLTIPLAS FORMAS E FEITIOS

Jornal de Noticias, 28/7/14

F. Cleto e Pina

A dar os primeiros passos quando a I Guerra Mundial teve início, a banda desenhada não se coibiu de fazer um retrato do conflito, fosse ela publicada em jornais generalistas – que, com o aumento da escolaridade, eram lidos em grande escala, atingindo tiragens hoje invejáveis, sendo as notícias da guerra as mais procuradas –, nos seus suplementos ilustrados, em publicações destinadas a aumentar o moral das tropas ou nos jornais humorísticos nascidos na época.

Entre estes, em França, destacaram-se títulos como "Le Canard Enchainé", "Les Trois Couleurs" e "La Baionette", que mostravam em banda desenhada (então ainda sem balões, com o texto sob as imagens) ou através de ilustrações, como era, na realidade, a guerra: o dramático quotidiano das trincheiras, a violência dos combates corpo a corpo, a falta de alimentos, a alegria dos que regressavam, a dor dos que perdiam entes queridos ...

Nas páginas daquelas e de outras publicações, o primeiro grande conflito mundial foi retratado de forma realista ou satírica, caricaturando os intervenientes ou contando as suas façanhas, seguindo os acontecimentos históricos ou ficcionando-os, exaltando os franceses e enxovalhando os alemães.

Nalguns casos (quase) em directo, como diríamos hoje, pois a arte era criada no local pelos "poilus" (nome que os franceses davam aos soldados das trincheiras), entre os ataques, os contra-ataques e as saudades de casa. E se alguns desses autores foram esquecidos pelo tempo, outros tornaram-se referências, como Gus Bofa, Léon Pénet, Étienne le Rallic e Paul Iribe.

Para o conflito, involuntariamente mas enquanto concidadãos dos que lá se batiam e perdiam avida, foram arrastados heróis dos quadradinhos que os leitores já conheciam. Os mais relevantes foram Bécassine e os Pieds-Nickelés.

Foi desta forma, num misto de retrato quotidiano, de humilhação do inimigo e de exaltação dos valores patrióticos, que a banda desenhada mostrou a I Guerra Mundial, saindo dela mais sólida e competente, pronta para outros voos pelos quadradinhos de papel.


QUIM E MANECAS TAMBÉM LUTARAM

Se muitos portugueses participaram activamente na I Grande Guerra, ilustradores e autores de BD traçaram-na no papel, com traços vivos, inquietos ou mordazes, com humor, realismo ou ficcionando-a. Entre eles, destaca-se Stuart Carvalhais, um dos maiores artistas gráficos do seu tempo, não só pelo seu virtuosismo, mas, principalmente, porque envolveu no conflito os seus Quim e Manecas, dois dos poucos heróis recorrentes que a BD nacional pode contar. Na verdade, ano e meio antes de se iniciar a participação militar lusa, Quim e Manecas passavam de autores de partidas e disparates a espiões, acabando prisioneiros dos alemães quando viajavam para os Estados Unidos. Invertendo rapidamente a situação em poucas semanas, foram aviadores, batalharam nas trincheiras, bombardearam – com ratos! – as linhas inimigas e – sozinhos – venceram a guerra, que, na (dura) realidade, duraria mais alguns anos.


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