domingo, 27 de março de 2016

GAZETA DA BD #56 NA GAZETA DAS CALDAS – OS ARGUMENTISTAS DA BD PORTUGUESA (4) – JORGE MAGALHÃES



GAZETA DA BD #56 NA GAZETA DAS CALDAS
OS ARGUMENTISTAS 
DA BD PORTUGUESA (4)
JORGE MAGALHÃES
O Homem de quase todos os ofícios na BD

Gazeta das Caldas, 25 de Março 2016

Jorge Machado-Dias

Geraldes Lino tem dito e escrito, muitas vezes, que em Portugal o argumentista é a avis rara da BD.

No entanto penso que Lino chama “aves raras” aos argumentistas portugueses, não só por terem sido em menor número que os desenhadores, mas sobretudo por serem muito menos conhecidos. São referenciados algumas dezenas de nomes de argumentistas em Portugal, desde Raul Correia – que já aqui referimos como argumentista de “Os Doze de Inglaterra” desenhado por Eduardo Teixeira Coelho –, Adolfo Simões Müller e Roussado Pinto (que assinava Edgar Caygill), até aos actuais David Soares, André Oliveira (ambos também desenhadores) e Nuno Duarte, que foram já tema de anteriores Gazetas da BD. Contudo, a proliferação de argumentistas na BD portuguesa deu-se especialmente enquanto durou o período dourado das revistas periódicas de banda desenhada, desde sobretudo de “O Mosquito”, iniciado em Janeiro de 1936, até ao último título, da periódica “Selecções BD”, que terminou a sua publicação no nº 31, em Maio de 2001. Depois desta data deixaram de se publicar revistas periódicas de Banda Desenhada, passando as apostas editorias a valorizar o álbum.

E foi precisamente nas “Selecções BD”, que pontificou aquele que consideramos o “último” e o mais prolífico dos grandes argumentistas da BD portuguesa desse período das revistas periódicas: Jorge Magalhães.

Jorge Arnaldo Sacadura Cabral de Magalhães nasceu no Porto, na Rua de Cedofeita, a 22 de Março de 1938. Uma vez concluído o antigo Curso Liceal e, antes de partir para Angola, publicou contos nas revistas juvenis Mundo de Aventuras e O Mosquito (II série), em 1959 e 1960. Em Angola foi funcionário público, trabalhando no Instituto do Café de Angola. Aí viveu entre 1961 e 1973, em Luanda, Novo Redondo e Porto Amboim. Durante a sua permanência em Angola, colaborou activamente em periódicos locais como o Comércio de Luanda, onde coordenou a página juvenil, Trópico e n’A Província de Angola, sem esquecer a sua passagem pela rádio e pelo Teatro. Mesmo longe de Lisboa, publicou artigos sobre BD no jornal República, na revista Pisca-Pisca e outras publicações.

“A paixão pelas histórias aos quadradinhos nasceu, por assim dizer, logo que aprendi a soletrar. Nesse tempo, com cinco anos, já gostava de folhear o “Mosquito“, que me ajudou bastante a decifrar as primeiras letras. Fui sempre um leitor assíduo de revistas infanto-juvenis e, depois do “Mosquito” e do “Diabrete“, comecei a coleccionar o “Cavaleiro Andante” e o “Mundo de Aventuras“. Não houve praticamente revista de BD que não me tivesse passado pelas mãos.” Refere Jorge Magalhães em entrevista ao Blogue do Tex, conduzida por José Carlos Francisco.

Regressado a Portugal em 1973, trabalhou na Agência Portuguesa de Revistas, tornando-se em 1974 coordenador da célebre revista de BD Mundo de Aventuras (II série), entre outros títulos da editora (Mundo de Aventuras Especial e Seleções), traduzindo bandas desenhadas e escrevendo artigos e contos. Em 1976 foi um dos sócios fundadores do Clube Português de Banda Desenhada, onde chegou a ser membro da direção, sendo esse ano marcado também pelo início da sua atividade como argumentista de BD, com "A Lenda de Gaia", desenhada por Batista Mendes para o Mundo de Aventuras.

A partir de 1976, a sua actividade como argumentista de BD ganhou fôlego, no Mundo de Aventuras e depois em Quadradinhos (2ª série), Tintin, O Mosquito (5ª série), Jornal da BD, Jornal do Exército, BDN (suplemento do Diário de Notícias), etc. Trabalhou com os desenhadores Augusto Trigo (desenhador com quem mais colaborou), António Carichas, Chaterine Labey (sua esposa), José Abrantes, Vítor Péon, Zénetto, Eugénio Silva, Fernando Bento, José Garcês, Ricardo Cabrita, João Mendonça, Carlos Alberto Santos, Rui Lacas, etc... Os seus textos abarcam os temas históricos, passam por aventuras em África e, sobretudo westerns (o seu tema preferido). Em algumas histórias, como na do nº 369 (2ª série), de 6-11-1980 do Mundo de Avenuras, com o título “A Sombra do Gavião“, desenhada por Augusto Trigo, Jorge Magalhães assinou o argumento com o pseudónimo de Roy West.

Foi coordenador da totalidade da produção da Editorial Futura, incluindo O Mosquito (5ª série), dirigido por José Chaves Pereira, assim como dos excelentes Cadernos de Banda Desenhada. Editou, durante alguns anos, vários fanzines especializados: Fandaventuras, Fandwestern, e outros. Assinou, como argumentista, mais de duas dezenas de álbuns editados, desde 1985. Publicou artigos sobre banda desenhada em diversos fanzines, bem como no Especial Quadradinhos (de A Capital) e outras secções especializadas em jornais, assim como nas publicações de sua responsabilidade. Colaborou com textos para as Edições Época de Ouro, tendo assegurado a coordenação de O Mosquito – 60º Aniversário (1996). Para as Edições Rodrigues Chaveiro coordenou a revista de reedições americanas Heróis Inesquecíveis, em 1997. Foi redactor-chefe e coordenador da revista Selecções BD, da Meribérica Liber, desde o início da revista em 1998 até ao seu final em 2001. Editou, pelo Salão de BD de Moura, os cadernos “O Western na BD portuguesa”, “Victor Péon e os Western”, “Banda Desenhada e Ficção Científica” e “ Franco Caprioli – no Centenário do Desenhador Poeta”.

Actualmente, como sócio do Clube Tex Portugal, escreve para a revista do Clube e mantém o seu blogue, “O Gato Alfarrabista – na sua Loja de Papel”: https://ogatoalfarrabista.wordpress.com/.

Fontes principais: Leonardo De Sá, “Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal” (edições NonArte/CNBDI, 1999) e Entrevista para o Blogue do Tex, conduzida por José Carlos Francisco, em http://texwillerblog.com/wordpress/?p=6659.

Jorge Magalhães com o seu inseparável boné, que quase nunca tira da cabeça, nem mesmo à mesa, durante os convívios bedéfilos almoçarados (ou ajantarados).

A Sombra do Gavião (1980), com argumento de Roy West (Jorge Magalhães) e desenhos de Augusto Trigo. 

Dama Pé de Cabra (1989), também ilustrado por Augusto Trigo.

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