quinta-feira, 13 de outubro de 2016

«O Mosquito» e «Chicos» - AS PUBLICAÇÕES INFANTO-JUVENIS QUE ABALARAM A PENÍNSULA IBÉRICA (4) – por José Ruy


AS PUBLICAÇÕES 
INFANTO-JUVENIS
QUE ABALARAM A PENÍNSULA IBÉRICA

«O Mosquito»
e «Chicos»
(4)

Por José Ruy

UMA MEDIDA DE RECURSO NO PROCESSO TÉCNICO DE «CHICOS»

Há um aspecto que eu acho de grande importância deixar aqui descrito, pelo seu inventivo e corajosa vontade de enfrentar a adversidade: foi a maneira como «Chicos» conseguiu resolver as grandes dificuldades criadas pela Guerra Civil em Espanha.

O País encontrava-se impossibilitado de importar matéria prima, e o material fotográfico era escassíssimo. Então Consuelo Gil determinou que os autores de histórias em quadrinhos, desenhassem logo ao formato da revista, usando tinta-da-china bem preta sobre papel vegetal transparente. Assim estes originais serviam de fotólitos, evitando a operação fotográfica, quando da gravação nas chapas de zinco Offset.

Foi um golpe de mestre, neste caso de «mestra».

A técnica consistia no seguinte:

Num papel normalmente usado para as máquinas de escrever (nessa altura ainda não havia fotocópias nem o papel fabricado para o efeito) o desenhador esboçava a lápis o desenho pretendido, no formato em que ia ser impresso na revista.
Sobre essa base colocava o papel vegetal e cobria com a tinta-da-china.
Deste modo não precisava de apagar o lápis, o que normalmente enfraquece o negro da tinta.
O esboço era depois aproveitado pelo autor para pintar em cima uma indicação de cor que servia de guia ao litógrafo na reprodução manual diretamente na chapa de zinco Offset.

Vou mostrar uma sequência utilizando o original da Pilar Blasco, Pili, como ela assinava e era tratada em família Blasco.

Podem ver o papel onde foi feito o esboço a lápis, agora já colorido e com o lápis apagado. A seguir, o desenho original a tinta-da-china em papel vegetal dessa página (já amarelecido pelos anos).

Para o litógrafo poder seguir melhor o apontamento da cor, sobrepunha-lhe o vegetal com o desenho, depois deste ter servido de fotólito para a gravação das chapas.

Os espaços que se veem abertos no vegetal foram cortados em Portugal, quando esta história foi publicada n’«O Diabrete» para retirar as legendas (primorosamente desenhadas pelos autores) e substitui-las pela tradução em língua portuguesa.

Não consegui a impressão desta mesma página impressa na «Mis Chicas», uma das muitas edições de Consuelo Gil.

Este original foi-me oferecido pela Pilar Blasco, quando em 1984 nos encontrámos em Barcelona. Levei nessa altura a Jesus Blasco originais seus da «Anita Diminuta» que tinham vindo para «O Mosquito» destinados à publicação e por cá haviam ficado esquecidos. À Pili entreguei alguns seus que encontrei no Diário de Notícias numa das vezes que regressei a essa empresa, e que estava num pacote para ser lançado ao lixo.

Os dois irmãos ofereceram-me alguns desses originais como «recompensa» por reaverem um material que pensavam perdido, e como recordação do nosso agradável encontro.

Estão arquivados no Bunker da Bedeteca da Amadora, a quem os doei juntamente com omeu material.

O FENÓMENO E. T.COELHO
EM PORTUGAL E EM ESPANHA

Quando Consuelo Gil se apercebeu da qualidade das ilustrações de Eduardo Teixeira Coelho n’«O Mosquito», entrou logo em contacto com o Tiotónio e estabeleceu uma parceria publicando-as também no «Chicos».

Para ultrapassar o problema que existia em Espanha com as reproduçõs, o Tiotónio tirava provas de prelo desses desenhos em «papel cristal», uma espécie de acetato, e enquanto a tinta estava fresca derramava-lhe porpurina que aderia ao traço reforçando a opacidade, ficando em condições para ser usada como fotólito no processo Offset de «Chicos».

Prova em papel cristal da ilustração publicada n´«O Mosquito» e a sua reprodução em «Chicos».

Em Espanha criavam novelas inéditas tomando por base as ilustraçõs de ETCoelho, mesmo pertencendo a novelas diferentes já publicadas n’«O Mosquito». Tal era a dmiração que tinham pelo desenhador português.


Mas Consuelo queria mais, e o Coelho passou a fazer muitas ilustrações exclusivamente para «Chicos», obedecendo ao processo exigido: desenhadas ao tamanho da publicação e sobre papel vegetal.

Nesta dupla página a cores a ilustração que atravessa o medianiz ficou cortada devido ao volume estar encadernado o que dificulta a scannerização em boas condições, por isso junto a mesma imagem, embora em tons de cinzento, para apreciarem o desenho completo.


Embora em Espanha existissem muito bons desenhadores a colaborar em «chicos», o ETCoelho foi aceite por todos, com muito carinho e grande admiração.

Em «Chicos» não lhe poupavam elogios; reparem como no topo da capa chamam de «formidáveis ilustrações de E T Coelho» o que era raro fazerem aos da casa.

Por essa altura ETCoelho só ilustrava novelas, mas Consuelo que acreditou imediatamente no seu génio, desafiou-o a realizar histórias em quadrinhos. Coelho produziu assim duas aventuras ilustradas para «Chicos», as suas primeiras, que só dois anos mais tarde viriam a ser publicadas em Portugal, n´«O Mosquito».

No próximo artigo:

Uma história ilustrada de ETCoelho para «Chicos», que não foi terminada e ficou inédita.

José Ruy

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