segunda-feira, 29 de maio de 2017

Gazeta da BD #75 (na Gazeta das Caldas) – Heróis da BD Portuguesa 7 – Jim Del Mónaco – de Tozé Simões e Luís Louro

Gazeta da BD #75 
(na Gazeta das Caldas)

Heróis da BD Portuguesa – 7
Jim Del Mónaco
de Tozé Simões e Luís Louro

No próximo dia 3 de Junho será lançado um novo álbum de Jim Del Mónaco, Ladrões do Tempo, na Feira do Livro de Lisboa. António José Simões escreveu os textos, ilustrados pelo desenho e cores de Luís Louro.

Ao que parece, a personagem nasceu depois de uma visita dos autores ao Saló del Còmic de Barcelona em 1985. Recordemos que nessa altura a BD franco-belga enfrentava uma crise, dado que faltavam argumentistas à altura da geração de grandes desenhadores que dominava o mercado. E tornara-se demasiado reflexiva e auto-crítica, fechando-se sobre si própria. Isso não acontecia nos países ibéricos de expressão castelhana e catalã, ou mesmo em Itália, onde a BD dava sinais de grande vitalidade no domínio da ficção.

A personagem que Louro e Simões apresentaram em Novembro de 1985 reflecte estas novas tendências, emulando em particular o estilo gráfico de Mique Beltran e Daniel Torres.

Mas o segredo do sucesso da série esteve em conciliar a nova linha da BD ibérica, com uma continuidade em relação aos clássicos. Com efeito, é uma continuidade que se revela, tanto no domínio gráfico (a partir da referência de Fernando Bento), como no domínio temático com a nostalgia da grande aventura que sempre ocupara as páginas das revistas de BD portuguesas: do Jim das Selvas de Alex Raymond, ao Mandrake ou Fantasma de Lee Falk, passando pelos grandes clássicos europeus do género publicados pela revista Tintin.

A primeira aparição de Jim del Mónaco deu-se em seis pranchas, publicadas no suplemento Tablóide do antigo jornal Diário Popular, entre Outubro e Novembro de 1985, Jim del Mónaco mostrava-se um herói de pacotilha, divertido e bem acompanhado pela escultural Gina e pelo criado preto Tião. Este episódio, mais tarde sub-intitulado O Souvenir, que não existia na publicação do Tablóide, seria incorporado no álbum que teve como título apenas Jim Del Mónaco, editado pela Editorial Futura, em 1986.

Mas entretanto ainda tinham aparecido mais dois episódios do herói, na revista O Mosquito, 5ª série, em Novembro de 1985 e Janeiro de 1986: O Elixir do Amor e O Doente-que-Caminha, com oito pranchas cada. O episódio inicial e estes dois últimos seriam editados também no álbum da Editorial Futura já referido acima. Pela Futura seriam editados depois mais três álbuns do herói: Menatek Hara, em 1987, O Dragão Vermelho, em 1988 e Em Busca das Minas de Salomão, em 1989 – todos em capa mole e a preto e branco. Estes quatro álbuns seriam reeditados, em capa dura e já coloridos, pelas Edições Asa entre 1991 e 1993, que editariam também A Criatura da Lagoa Negra e A Grande Ópera Sideral, em 1991 e Baja Áfrika, em 1993. Portanto sete álbuns compuseram a bibliografia da série até o argumentista Tózé Simões ter abandonado a escrita dos argumentos para ir exercer a sua profissão a sério.

O regresso de Jim Del Mónaco deu-se com O Cemitério dos Elefantes, em Setembro de 2015, comemorando o 30º aniversário do início da série e 22 anos depois do último album publicado, como referi na Gazeta da BD #42. Como ainda não tive oportunidade de ler este álbum, precisei de me socorrer das opiniões de dois críticos de BD.

Pedro Cleto, por exemplo afirma que “(...) o traço de Luís Louro está mais maduro, mais contido e o trabalho de cor e de sombras, feito em computador, transmite-lhe um brilho que até agora nunca tinha tido (...) os temas foram actualizados, o que permite que todos e não só os antigos leitores – ou os leitores mais antigos… – possam desfrutar da sátira e das referências. Onde antes imperavam os antigos heróis (Mandrake, Fantasma, Tarzan) e as situações dos quadradinhos e da literatura da época, agora estão os oriundos das séries televisivas (The Walking Dead) e do cinema (Men in Black), a par de temas de cultura geral como a cadela Laika ou os míticos cemitérios dos elefantes, sendo que estes últimos dão o mote à história mais consistente e conseguida (...)”

Já Pedro Moura, muito mais crítico e assertivo, refere que “(...) a primeira grande surpresa é algo a que podemos chamar de “a falta de distância” entre este novo volume e aqueles a que ele se associa na sua vida autoral. Ao passo que poderíamos fazer uma comparação com, por exemplo, os álbuns de Filipe Seems, de Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves, no sentido de termos os autores a revisitarem bem mais tarde uma personagem que fizera um momento da história das suas carreiras e até da banda desenhada portuguesa, essa comparação serviria para assinalar o modo como Silva e Gonçalves procuraram revisitar o seu projecto com sensibilidades e métodos de trabalho entretanto conquistados, ao passo que Simões e Louro pura e simplesmente revisitam as mesmíssimas fórmulas, e aparentemente sem preocupação de alterar os propósitos (...)”

Esperemos portanto que o álbum a ser editado agora, Ladrões do Tempo, traga algo de novo...

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